TJSP – CSM – Compromisso de compra e venda – Lei municipal que não elencou, dentre as hipóteses de incidência do imposto sobre transmissão inter vivos (ITBI), o compromisso de compra venda.

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      PODER JUDICIÁRIO

      TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

      CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA

      Apelação Cível nº 1092983-89.2023.8.26.0100

      Registro: 2023.0001041821

      ACÓRDÃO  

      Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1092983-89.2023.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante CHRISTIAN ENGELMEIER, é apelado 6º OFICIAL DE REGISTRO DE IMÓVEIS DA COMARCA DA CAPITAL.

      ACORDAM, em Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: “Deram provimento, v u.”, de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

      O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores RICARDO ANAFE (PRESIDENTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA) (Presidente), GUILHERME GONÇALVES STRENGER (VICE PRESIDENTE), XAVIER DE AQUINO (DECANO), BERETTA DA SILVEIRA (PRES. DA SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO), WANDERLEY JOSÉ FEDERIGHI(PRES. DA SEÇÃO DE DIREITO PÚBLICO) E FRANCISCO BRUNO (PRES. SEÇÃO DE DIREITO CRIMINAL).

      São Paulo, 17 de novembro de 2023.

      FERNANDO ANTONIO TORRES GARCIA

      Corregedor Geral da Justiça e Relator

      APELAÇÃO CÍVEL nº 1092983-89.2023.8.26.0100

      APELANTE: Christian Engelmeier

      APELADO: 6º Oficial de Registro de Imóveis da Comarca da Capital

      VOTO Nº 39.206

      Registro de imóveis – Compromisso de compra e venda – Lei municipal que não elencou, dentre as hipóteses de incidência do imposto sobre transmissão inter vivos (ITBI), o compromisso de compra venda – Óbice afastado – Apelação provida para julgar improcedente a dúvida e deferir o registro.

      Trata-se de apelação interposta por Christian Engelmeier contra a r. sentença proferida pela MM. Juíza Corregedora Permanente do 6º Oficial de Registro de Imóveis da Comarca de São Paulo, que manteve a recusa do registro do instrumento particular de compromisso de compra e venda referente aos imóveis matriculados sob nºs 139.582 e 148.409 junto à referida serventia extrajudicial (fls. 98/103).

      Em suas razões, o recorrente alegou, em síntese, que o título ofertado a registro encontra-se hígido e apto à sua finalidade, não se justificando a exigência de comprovação do recolhimento do Imposto sobre Transmissão Inter Vivos – ITBI. O imposto de transmissão só deve incidir sobre transações registradas em cartório, que impliquem efetiva transmissão da propriedade imobiliária. Portanto, não constituído o fato gerador, indevida a exigência registrária (fls. 109/121).

      A douta Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo não provimento do recurso (fls. 140/144).

      É o relatório.

      Apresentado a registro o instrumento particular de compromisso de compra e venda referente aos imóveis matriculados sob nºs 139.582 e 148.409 junto ao 6º Oficial de Registro de Imóveis da Comarca de São Paulo, o Registrador condicionou o seu ingresso na tábua registral à comprovação de recolhimento do Imposto sobre Transmissão Inter Vivos ITBI (nota de devolução a fls. 31/32).

      Tal exigência, contudo, respeitado o entendimento da MM. Juíza Corregedora Permanente, deve ser afastada, autorizando o ingresso do título no cadastro predial.

      Os artigos 1º e 2º da Lei nº 11.154, de 30 de dezembro de 1991, do Município de São Paulo, regulamentada pelo Decreto Municipal nº 61.810, de 14 de setembro de 2022, que dispõe sobre o Imposto sobre Transmissão Inter Vivos, a qualquer título por ato oneroso, de bens imóveis por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos à sua aquisição, e dá outras providências, prelecionam:

      “Art.1º O imposto sobre Transmissão ´inter vivos´ de bens imóveis e de direitos reais sobre eles tem como fato gerador:

      I – a transmissão ‘inter vivos’, a qualquer título, por ato oneroso:

      a) de bens imóveis, por natureza ou acessão física;

      b) de direitos reais sobre bens imóveis, exceto os de garantia e as servidões.

      II – a cessão, por ato oneroso, de direitos relativos à aquisição de bens imóveis.

      Parágrafo único O imposto de que trata este artigo refere-se a atos e contratos relativos a imóveis situados no território deste Município.”

      “Art.2º. Estão compreendidos na incidência do imposto:

      I – a compra e venda;

      II – a dação em pagamento;

      III – a permuta;

      IV – o mandato em causa própria ou com poderes equivalentes para a transmissão de bem imóvel e respectivo substabelecimento, ressalvado o disposto no artigo 3º, inciso I, desta Lei;

      V – a arrematação, a adjudicação e a remição;

      VI – o valor dos imóveis que, na divisão de patrimônio comum ou na partilha, forem atribuídos a um dos cônjuges separados ou divorciados, ao cônjuge supérstite ou a qualquer herdeiro, acima da respectiva meação ou quinhão, considerando, em conjunto, apenas os bens imóveis constantes do patrimônio comum ou montemor.

      VII – o uso, o usufruto e a enfiteuse;

      VIII – a cessão de direitos do arrematante ou adjudicatário, depois de assinado o auto de arrematação ou adjudicação;

      IX – a cessão de direitos decorrentes de compromisso de compra e venda;

      X – a cessão de direitos à sucessão;

      XI – a cessão de benfeitorias e construções em terreno compromissado à venda ou alheio;

      XII – a instituição e a extinção do direito de superfície;

      XIII – todos os demais atos onerosos translativos de imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis.”

      Como se vê, a legislação municipal não elencou, dentre as hipóteses de incidência tributária, o compromisso de compra e venda, apenas a cessão de direitos decorrentes de compromisso de compra e venda (artigo 2º, inciso IX, da Lei Municipal nº 11.154/1991).

      Logo, não há como se determinar a sujeição ao Imposto sobre Transmissão Inter Vivos – ITBI do compromisso de compra e venda levado a registro, uma vez que não está albergado pela lei local, sob pena de ofensa ao princípio da legalidade.

      Por oportuno, a respeito do princípio da legalidade, cabe transcrever a lição de Luciano Amaro, para quem “não tem a autoridade administrativa o poder de decidir, no caso concreto, se o tributo é devido ou quanto é devido. A obrigação tributária é uma decorrência necessária da incidência da norma sobre o fato concreto, cuja existência é suficiente para o nascimento daquela obrigação (CTN, art. 114)” (Direito tributário brasileiro. 11ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 112).

      Nesse cenário, não constituído o fato gerador do tributo ora questionado, como já dito, de rigor o afastamento do óbice imposto pelo Oficial de Registro de Imóveis, deferindo o registro almejado.

      No mais, como bem destacou a MM. Juíza Corregedora Permanente, “quanto a eventuais cautelas complementares em virtude da falsidade anteriormente praticada, verifica-se que não há qualquer medida a ser tomada, notadamente diante da certidão de fl. 21, que confirma a regularidade formal das assinaturas reconhecidas.” (fls. 102).

      Ante o exposto, pelo meu voto, dou provimento à apelação para, reformando a r. sentença, julgar improcedente a dúvida e permitir o rogado registro.

      FERNANDO ANTONIO TORRES GARCIA

      Corregedor Geral da Justiça e Relator

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